sábado, 10 de janeiro de 2009

RIO DE SANGUE Parte I: O Começo

No começo eram sós os índios, como em todo o continente americano, os Tupis-Guaranis que englobavam os Tapes, Carijós, Caaguas, Guaianás, Aranchanes, Gês, Coroados, e os Guaicurus dos quais faziam Parte os Jaros, Guenos, Charruas e Minuanos. Os Tupis-Guaranis já dominavam o cultivo da terra, instalando suas aldeias nos lugares mais férteis, os Guaicurus viviam da caça e da pesca.
Até chegarem os grandes navegadores. Portugueses e espanhóis dominaram o continente do norte para o sul, tomando tudo o que viam pela frente como seu. Portugueses pelo leste, espanhóis pelo oeste em disputas fronteiriças entre si, mas sem duvidar nunca que eram os donos de tudo. Quando o território começou a afunilar essas disputas se tornaram mais acirradas, até o inevitável encontro.
A terra encontrou o mar, portugueses e espanhóis disputavam o mesmo pedaço.
A Província de São Pedro do Rio grande do sul só teve sua posse e fronteiras definidas no ano de 1777, das missões Jesuítas até o oceano Atlântico era território português. Já havia nessa época um pequeno núcleo urbano em função do forte militar Jesus Maria Jose e do Porto que se localizava no único ponto do litoral em que a presença das lagoas não impedia o cesso direto ao continente. Foi nessa província ainda sem nenhuma atividade econômica relevante, que no ano de 1779 desembarcou um português vindo da Província do ceara na companhia de alguns negros, e a idéia de produzir carne salgada. Como o processo exigia a secagem da carne em varais, as praias de areia fina do Rio Grande não foram adequadas. E foi à procura do lugar ideal que esses homens chegaram às margens do arroio Pelotas em 1780.
Com uma mistura de tecnologia obtida das culturas indígenas e africanas o português criou a industrialização de um produto que encontrou mercado no pais inteiro e logo em outros paises, chegando a ser a 5ª economia do Brasil. Como esse processo de industrialização dependia não só da mão de obra, mas principalmente do conhecimento dos africanos, esses firam trazidos em massa, nas piores condições possíveis. Chegaram a representar 60% da população o que deixa bastante clara a sua importância na construção desta economia. A estação de matança ocorria nos meses que havia sol para secagem ou seja de novembro à maio, no restante do ano o contingente africano era transferido para as olarias. Um séc. inteiro produzindo charque, dormindo em senzalas úmidas, agüentando o frio, as doenças, e o "mal do sal" rachando seus pés.

Um séc. amassando barro, fazendo telhas, falquejando madeira, entalhando pedras, dando forma a uma arquitetura opulenta que nascia da riqueza do charque. Construindo o cenário perfeito para uma historias de barões, generais, guerras, saraus, teatro, musica, requinte e sotaque francês. Enquanto os salões adquiriam fama nacional, nas cozinhas estavam habeis criaturas cuja cultura milenar ritualizava o preparo de iguarias, que tornaram memoráveis as mesas deste lugar.
Todo o luxo e refinamento que o dinheiro do charque, a habilidade dos africanos, e a terra dos índios lhes permitiu. Uma grande historia, um grande momento, os navios saiam carregados de charque todos os dias abastecendo armazéns pelo mundo a fora, o charque era a gasolina do mundo escravista, já que o trabalho escravo era a força motriz do séc. XIX, esta carne era a única proteína que mantinha forte o plantel africano, que na condição de escravos, construía o "novo mundo" e dava manutenção ao "velho".

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